Conheça curadores e curadoras da Mostra Nordeste do 28º FNT Guaramiranga

  • AUTOR: fnt
  • 11 de agosto de 2022
Conheça curadores e curadoras da Mostra Nordeste do 28º FNT Guaramiranga

Aline Vila Real (MG) – Gestora cultural, curadora e produtora artística. Integrou, por dez anos, o grupo teatral Espanca!, como coordenadora de produção e diretora do espetáculo PassAarão (2017) e coordenou o Teatro Espanca!. Entre 2017 e 2020 realizou curadoria e direção artística de alguns festivais, dentre eles Polifônica Negra, Festival Internacional de Arte Negra de BH e Encuentro Virtual Mujeres Afro en Escena – América Latina y Caribe, no Peru. Atualmente realizou assistência de direção da peça filme “Ficções Sônicas 02: Feitiço”, de Grace Passô. Foi diretora de Promoção das Artes na Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, realizando a gestão do Circuito Municipal de Cultura e dos Teatros Municipais até junho de 2022.

Texto da curadora:
Potência, virtuosismo, pertencimento, empoderamento são palavras carregadas de conceitos que podem gerar importantes caminhos e descobertas ao longo dos processos criativos, assim como violência, invisibilidade, subjugamento. Estamos envolvides nesses percursos que nos colocam no risco de aprisionar a expressão na busca da verdade. Às vezes o inconformismo em relação à política, aos regramentos sociais, se apresenta através de uma linguagem ensimesmada, confortável no discurso sobre si mesmo e, o exercício cênico nos convida a construir um espaço onde não saber tudo é uma condição que dá existência a nossa própria razão, abrindo caminhos através da experimentação.

Estes trabalhos aqui reunidos nos ajudam a refletir sobre questões incontornáveis para o nosso convívio social – liberdade, diversidade, identidade, memória; através de ritos, encontros, exposições, intervenções, contação de histórias.

Aqui é possível acompanhar como o corpo em cena, em movimento, em repetição, enjaulado, marcado, em comunhão, cansado, em travessia, escreve dramaturgias que transbordam as sinopses e autodefesas. São nesses espaços que escapam ao controle, que novas imagens surgem e constroem obras diversas dentro de uma mesma encenação.

Essa proposta de mostra se fundamenta na possibilidade de revelar polifonias estéticas que possam nos encorajar ao debate sobre questões que envolvem nossos cotidianos e imaginários, fortalecendo a fé nas experiências presenciais compartilhadas.

Esse conjunto de obras cênicas apresenta uma mostra das 155 obras inscritas, também em sua representatividade regional, que revela a diversidade no manejo da linguagem, no diálogo do teatro com a dança, as artes visuais, as culturas populares, as investigações históricas e políticas.

Agradeço à equipe do 28º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga pelo convite para participar da curadoria da Mostra Nordeste, uma grande oportunidade de me conectar com artistas de nove diferentes estados brasileiros, através da leitura dos trabalhos e do compartilhamento do exercício curatorial.

 

Francis Wilker (GO/CE) – É artista da cena, diretor, curador, pesquisador e professor do curso de Teatro e do Programa de Pós-graduação em Artes do ICA-UFC. Doutor em Artes Cênicas pela ECA-USP. Integra o coletivo Brasiliense Teatro do Concreto.

Texto do curador:
Para alguns historiadores, a palavra guaramiranga tem origem tupi e significa “pássaro vermelho”. Gostaria de começar com essa imagem da garça vermelha sobrevoando a acolhedora cidade de Guaramiranga na 28ª edição do seu Festival Nordestino de Teatro. Imagino a composição de trabalhos cênicos que integram a programação como uma revoada de pássaros que nos convida a imaginar outros horizontes ao nos colocar face a face com nossa realidade e todas as suas contradições, agora, ainda mais agudas que antes. Cada criação desenha um voo, alguns mais próximos do chão e outros mais perto das copas das árvores e do céu.

As criações selecionadas apontam um recorte da ampla e diversa produção cênica da região Nordeste, um pequeno retrato dos muitos nordestes. Na totalidade das inscrições, chama a atenção grande quantidade de espetáculos protagonizados ou dirigidos por mulheres, elas abrem espaço e redesenham o próprio imaginário nordestino. Também são elas – como apontam as pesquisas recentes para uma das eleições mais importantes da democracia brasileira – a maior resistência às forças conservadoras e autoritárias que querem dominar o país. Por tudo isso, por ocuparem ontem e hoje e cada vez mais a cena, os bastidores, a política, os movimentos sociais, minha enorme admiração. Que esse Brasil mulher que está sendo gestado possa logo ser a realidade que merecemos. Que o Nordeste, tão duramente castigado por oligarquias históricas que remontam aos coronéis, seja capaz de ver as mulheres governadoras, prefeitas, vereadoras e em tantos outros espaços de poder e gestão. Uma revoada de pássaras vermelhas reescrevendo a arte e a política.

Os espetáculos que desenham o voo da 28ª edição do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, na sua retomada ao presencial, operam com diferentes procedimentos e linguagens, entre vetores formais e temáticos, poderia destacar: a dramaturgia convivial, que demanda de espectadores um exercício de proximidades. A memória, vetor desdobrado de múltiplas formas, seja no resgate de uma trajetória artística e suas marcas sociais, seja no jogo composicional com a fabricação de memórias que foram intencionalmente soterradas. No rastro do lembrar, discursos públicos são amplificados e levados ao exagero, desestabilizando a sua aparente normalidade, nos provocando a não tolerar o intolerável. As cidades, seus tensionamentos, assimetrias, ancestralidades e imaginários emergem como outro traço em alguns dos espetáculos. A potência poética-política dos corpos atrita o real e insurge movendo as placas tectônicas de um país fundado na violência contra determinados corpos, sobretudo, indígenas, negros, mulheres e travestis.

São espetáculos que, lado a lado, fazem emergir um continente de reflexões e provocações sobre o nosso presente e suas possibilidades de transformação. Cada criação como um pássaro vermelho incandescente no Brasil de agora.

 

Thereza Rocha (RJ/CE) – Pesquisadora de dança, diretora e dramaturgista de processos de criação. Doutora em Artes Cênicas pela UNIRIO. Professora dos cursos de graduação em Dança e do Programa de Pós-graduação em Artes| PPGARTES da Universidade Federal do Ceará.

Texto da curadora:
É julho de 2022 e cá estamos nós, ainda enfiados no pandemônio político brasileiro que insiste em arruinar-nos o juízo. Em meio à turba pré-eleitoral, o único assunto viável parece ser o momento do pleito prestes a chegar. Pois sim, pois não.

Com a memória ainda viva do passado recente, atravessado pelo imperioso distanciamento social que fechou os teatros, mais uma vez com muita honra, integrei a equipe curatorial da Mostra Nordeste, agora do XXVIII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, entendendo-a senão como gesto de resistência e ato de fala.

Importou reunir trabalhos cuja contundência poética e discursiva apresentasse certa foto do buraco em que nos encontramos. Importa indagar o que nos falta, aquilo que faz noite no pensamento e nos impele a acordar, não do sonho, mas no sonho. Importa não somente celebrar o retorno à reunião presencial que a Mostra promoverá, mas permitir que a potencial fagulha deste encontro faça fogo nessa(s) noite(s).

Como não poderia deixar de ser, a pergunta sobre a fatura cênica influiu nas escolhas. Pesou a inquietude das pesquisas que movem perguntas contundentes a seu tempo. Assim, procurei olhar os nove estados nordestinos com trabalhos inscritos na Mostra e, dentre eles, reunir tanto a representatividade da região, quanto a multiplicidade de acontecimentos teatrais que promovem.

Salta da lista de 155 obras que atenderam à convocatória do Festival, a força mulher da produção cênica de um nordeste que certamente pintará de vermelho o mural da história brasileira imediatamente por vir. Que venham as pretas, as indígenas, as bichas, as travestis, saídas do sonho acordado de um país cujo retrato torto e provisório, tento ajudar a compor.

 

Raphael Vianna (RJ) – Artista-pesquisador e gestor cultural residente na cidade do Rio de Janeiro. Possui doutorado e mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UNIRIO com intercâmbio acadêmico pela City University of New York (CUNY). Trabalha como analista de cultura no Departamento Nacional do Sesc onde integra a coordenação e curadoria dos projetos Palco Giratório, Sesc Dramaturgia e Plataforma Cena. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas. Desde 2009 é membro integrante da VAI! Coletivo, onde responde pela direção artística e se dedica à pesquisa sobre processos de criação envolvendo o intercâmbio de linguagens artísticas em campo expandido.

Texto do curador:
Diante da diversidade e da potência da produção cênica da região Nordeste, o recorte proposto na seleção da “Mostra Nordeste” se volta para a composição de uma programação que almeja o contato com movimentos, emergências e insurgências presentes na complexa atualidade brasileira.
A priorização de companhias, grupos, coletivos e artistas comprometidos com a investigação de linguagens e suportes assim como o interesse em encampar debates de cunho político-ético-estético por meio de produções artísticas de diferentes estados da região nordeste foram vetores determinantes para guiar as escolhas aqui feitas.

Assim, os trabalhos reunidos na programação tocam numa grande variedade de temáticas e abordagens, como questões étnico-raciais, cartografias de processos criativos, presenças, ausências, invisibilidades e representatividades, sempre num viés interseccional. Nesse escopo, a programação abre espaço para trabalhos que apostam no estabelecimento de zonas proximais com os públicos e na ativação de espaços cotidianos por meio de intervenções artísticas que operam modos diversificados de encontro e convivialidade.

Cabe também destacar a presença de trabalhos que retratam de modo crítico a estúpida intolerância e os discursos retrógrados envolvendo preconceitos de classe, raça e gênero. Portanto, registra-se na programação a presença de trabalhos que se mostram como estratégias de luta contra o silenciamento e a subalternização de matrizes nativas e diaspóricas com o objetivo de minar projetos hegemônicos e os ranços ocidentalizantes que ainda moribundeiam por aí.

Importante também registrar os trabalhos que se relacionam a contextos socioculturais bastante específicos, convidando ao contato com elementos marcantes das regionalidades de nosso país. Obras que também se destacam pela investigação dramatúrgica, autoralidade, pesquisa e pelo engajamento político e estético envolvidos no seu fazer.

Embora se reconheça o lugar e a pertinência das produções digitais neste momento de (pós?)pandemia, o presente recorte optou pela seleção de trabalhos presenciais no sentido de reforçar a retomada da programação presencial nos equipamentos culturais tradicionalmente ocupados pelo Festival antes do advento da Covid-19.

Fica, então, o desejo de que a 28ª edição do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga possa criar laços cada vez mais fortes com seus públicos e dar continuidade a uma política localizada de ação cultural que oferece uma contribuição importantíssima para a promoção e o incentivo das artes cênicas no país.

 

Curador e curadora da Mostra Palco Ceará do 28º FNT Guaramiranga

PAULO FEITOSA (CE) – Coordenador de Curadoria Mostras Nordeste e Palco Ceará
Empreendedor Social, Publicitário, Produtor e Gestor Cultural. Bacharel em comunicação social – Publicidade e propaganda, especialista em gestão cultural, mestre em ciências da cultura e comunicação pela universidade Trás-os-Montes e Alto Douro – Portugal. Fundador e diretor da empresa Quitanda soluções criativas, classificada com um negócio de impacto social, empresa dedicada à inovação social que tem como princípios o fortalecimento da educação, da cultura, e da inovação social e tecnológica, através do desenvolvimento de programas e projetos inovadores e sustentáveis. A instituição se baseia na compreensão de que refletir sobre cultura e educação é pensar valores e novos códigos sociais. Dirige projetos culturais e educacionais em diversos segmentos, com destaque para a direção e curadoria de diversos festivais de artes cênicas, música em âmbito nacional e internacional. Assina também a idealização do projeto Escolas Criativas e do programa de formação Laboratórios culturais. Dedicou-se à gestão de políticas públicas para a cultura, como Secretário Executivo da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult)2012-2014.

 

 

ANDRÉIA PIRES (CE)
É mestre em artes pela Universidade Federal do Ceará, pesquisa dramaturgias expandidas transitando entre as linguagens da dança, do teatro e do cinema. Membro da Inquieta Cia., atua como diretora em diversos projetos realizados em Fortaleza, tendo o “corpo” como alvo das suas múltiplas investigações.

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